" O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os homens com fogo. Com efeito os homens se queimaram com o intenso calor, blafemaram o nome de Deus que tem auatoridade sobre estes flagelos, nem se arrependeram para lhe darem glória. Apocalipse 16:8-9"
Em
1859, o Sol entrou em erupção, e na Terra os fios emitiram faíscas que deram
chocaram nos operadores de telégrafo e queimaram seus papéis.
Foi
a maior tempestade geomagnética registrada na história. O Sol atirou bilhões de
toneladas de elétrons e prótons zunindo em direção à Terra, e quando essas
partículas bateram no campo magnético do planeta criaram auroras espetaculares,
com tons verdes, vermelhos e púrpura no céu noturno -- juntamente com poderosas
correntes elétricas que saíam do chão para os fios, sobrecarregando os circuitos
Se
uma tempestade dessas ocorresse no século 21, alguns satélites de
telecomunicações muito acima da Terra seriam inutilizados. Os sinais de GPS se
embaralhariam. E as redes elétricas poderiam falhar, mergulhando um continente
inteiro na escuridão.
Os
cientistas dizem que é impossível prever quando vai acontecer a próxima
tempestade solar gigante --e se a Terra estará em seu caminho. O que eles sabem
é que com mais manchas solares vêm mais tempestades, e neste outono o Sol
deverá atingir o auge de seu ciclo de manchas de 11 anos.
As
manchas solares são regiões com campos magnéticos turbulentos onde se originam
as labaredas solares. Seus altos e baixos são observados há séculos, mas
somente nas últimas décadas os cientistas solares descobriram que os campos
magnéticos no interior das manchas podem desencadear os clarões fortes chamados
labaredas solares e as erupções gigantescas de partículas carregadas conhecidas
como ejeções de massa coronária.
Os
especialistas estão divididos sobre as consequências para a Terra de uma
erupção solar cataclísmica, conhecida como evento de Carrington, nome do
astrônomo britânico que documentou a tempestade de 1859.
Um
blecaute continental afetaria muitos milhões de pessoas, "mas é
administrável", disse John Moura, da Corporação Norte-Americana de
Confiabilidade Elétrica, um grupo sem fins lucrativos fundado por
distribuidoras para ajudar a administrar a rede de energia. A maior parte da
rede poderia ser religada em cerca de uma semana, ele disse.
Outros
são mais pessimistas. Temem que uma erupção enorme e bem dirigida do Sol
causaria não apenas o desligamento da iluminação, mas também danificaria os
transformadores e outros componentes críticos.
Alguns
lugares poderiam ficar sem energia durante meses, e "há possibilidade de
escassez crônica durante vários anos", segundo o Conselho Nacional de
Pesquisa, o principal grupo de pesquisa científica dos Estados Unidos.
E
mesmo que o Sol projete uma grande explosão, como ocorreu em julho passado, há
probabilidade de que ela siga inofensivamente em outra direção do sistema
solar. Só raramente uma explosão gigante voa diretamente para a Terra.
O
exemplo mais claro e estudado da capacidade do Sol de afetar as redes de
energia ocorreu em 13 de março de 1989 em Quebec, no Canadá. Nas primeiras
horas da manhã, uma tempestade solar gerou correntes nas linhas de transmissão,
danificando os interruptores de circuito. Em poucos minutos um blecaute se
estendeu pela província. A energia foi restabelecida no mesmo dia. O Canadá foi
atingido novamente alguns meses depois, quando outra tempestade solar causou o
desligamento de computadores na Bolsa de Toronto.
A
organização de Moura divulgou um relatório no ano passado dizendo que as
distribuidoras seriam advertidas com tempo suficiente para desligar a rede e
proteger os transformadores.
Os
perigos não vão desaparecer depois que passar o máximo solar - o período de
clima espacial mais pesado. Mesmo quando está calmo, com poucas manchas, o Sol
pode produzir uma erupção gigantesca.
As
labaredas solares, que viajam na velocidade da luz, chegam à Terra em menos de
8,5 minutos e podem interromper algumas transmissões de rádio. Mas são as
ejeções de massa coronária - em que bilhões de toneladas de elétrons e prótons
são projetadas e aceleram a mais de 1,5 milhão de quilômetros por hora - que
causam maior preocupação.
As
partículas ejetadas, que geralmente levam dois ou três dias para percorrer os
150 milhões de quilômetros entre o Sol e a Terra, nunca atingem a superfície: o
campo magnético do planeta as desvia.
Mas
então elas ficam presas no campo. Seu movimento de um lado para outro gera
novos campos magnéticos, a maior parte no lado noturno, e estes, por sua vez,
induzem correntes elétricas no solo. Essas correntes brotam do chão para as
linhas de transmissão elétrica.
O
Sol está disparando em média algumas ejeções de massa coronária por dia,
incluindo uma em 15 de março que atingiu diretamente a Terra, gerando auroras
pitorescas tão ao sul quanto o Colorado, mas sem causar danos perceptíveis.
As
espaçonaves de observação do Sol da Nasa rastreiam as manchas solares e podem
dar advertências de quais regiões apresentam probabilidade de erupções.
John
Kappenman, um engenheiro elétrico que é dono da Storm Analysis Consultants, tem
advertido sobre uma potencial catástrofe. "Em certo sentido, estamos
jogando roleta-russa com o Sol", ele disse.
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